A árvore que desde a antiguidade é definida como o, ou a guardiã da saúde é o Sabugueiro. O primeiro registo conhecido do uso desta planta no meio medicinal aparece nos escritos de Hipócrates, já lá vão 2500 anos. Etimologicamente, o termo Sambucus, deriva do termo Sambuca, nome de um antigo instrumento musical muito utilizado pelos Romanos e fabricado com a madeira desta árvore. Plínio refere que as cordas musicais mais sonoras eram feitas com madeira de Sabugueiro. As gentes simples consideram ainda hoje, o sabugueiro, como uma autêntica “botica viva”, pois todas as partes desta árvore/arbusto são indicadas para múltiplos usos. Por todo o lado o sabugueiro é extremamente querido e considerado, quer por características medicinais ou mesmo lendárias, assim como pela beleza natural da sua flor. Embora seja uma árvore arbusto um pouco espalhada por todo o lado na nossa região assume.
O sabugueiro em Portugal é espontâneo em todo o País, com maior incidência no Norte, onde abunda ao longo de caminhos, nas proximidades das linhas de água e em bordadura de terrenos ocupados com culturas arvenses de regadio.
É na região do vale do Varosa que o fruto desta planta é apreciado desde à séculos.
Os romanos tinham um carinho muito particular por este arbusto pois ele fazia parte das árvores de jardim que plantavam junto das suas habitações. Porém, e para lá da questão estética, acreditavam que dentro deste arbusto vivia uma fada boa que protegia o seu lar e aqueles que nele habitavam. Tudo leva a crer que teriam sido eles a introduzi-la nesta região pois temos à nossa volta vários castros que foram romanizados, e muitos registos da presença romana entre nós. Com a queda do império e com a vinda de outros povos a agricultura passou para segundo plano.
Foi na reconquista, portanto no século XII, e com a vinda dos Monges de Cister que a agricultura sofre uma revolução completa e as novas técnicas são introduzidas tirando assim partido de uma exploração consistente e bem definida. Sabemos hoje pelos mais variados registos de compras, vendas, escambos e doações, etc. que os Monges de Cister são os grandes obreiros desta agricultura e os grandes reformadores agrícolas e paisagísticos dos vales e das encostas da região do Varosa, Távora e Douro. Os Monges de Cister, e em particular os Monges Brancos de Santa Maria de Salzedas compram terras e recebem doações na região hoje denominada do Douro. Duas grandes quintas que ainda hoje permanecem como tais, Moçul em Cambres – concelho de Lamego, e a Quinta dos Frades na Folgosa, concelho de Armamar, são exemplo desse grande trabalho monástico.
Ajuda-nos a perceber este momento crucial para a agricultura da região do Vale do Varosa, o trabalho levado acabo pela equipa de investigação e escavação que nos últimos anos tem levado a cabo no Conjunto Monástico de S. João de Tarouca.
De entre os muitos estudos levados a efeito, um dos mais interessantes é o da análise polínica e antropológicas a amostras recolhidas em ambiente de escavação arqueológica. Essas amostras feitas com microscópio óptico “identificaram entre duzentos e oitenta a quatrocentos e oitenta grãos de polén por amostra”. Desta enorme quantidade de poléns conseguiu a equipa agrupa-las em vinte e seis grupos taxonómicos. Deste estudo ressalta, para o nosso caso especifico a seguinte conclusão; “são completamente ausentes os poléns da oliveira, da vinha e do sabugueiro.
Se as análises polínicas dão este resultado, também as análises antropológicas confirmam a conclusão. Neste mesmo estudo os autores dizem claramente ”a(…) ausência da Oliveira, da vinha e do sabugueiro apontam claramente para a sua posterior introdução” .
A introdução do cultivo das vinhas de forma sistemático e apurado, com a experimentação das castas francesas que os monges trouxeram fez com que novas perspectivas se abrissem. Acontecia porém que o vinho produzido na região duriense não era tão bom como os monges queriam. É neste sentido e nesta altura que a Baga do Varosa assume o papel de vedeta, transformando-se em produto essencial para aveludar, encorpar e até envelhecer o próprio vinho.
Tendo os monges na mão um produto tão particular como era a Baga do Varosa, assim designada por eles, pelo facto da sua maior produção se efectuar no Vale Encantado (Vale do Varosa). A Planta que o produz (Sabugueiro) deixa de ser bravio para se tornar numa árvore cultivar, obtendo desta, um produto com mais qualidade, com mais “brix” e “baume” como hoje se diz. É desta forma e por este motivo, que um arbusto que servia apenas para jardins e até com motivos supersticiosos se torna numa árvore essencial para o desenvolvimento de um produto que era o vinho.
Em documentos reservados no arquivo Paroquial de Salzedas esses mesmo registo dão-nos informações muito particulares acerca do desenvolvimento desta mesma cultura e do aproveitamento que a Baga do Varosa tinha para as mais variadas actividades humanas. A Baga do Varosa era pelos monges e depois também por muita outra gente um produto essencial para muitas actividades. Desde a introdução desta na alimentação humana, até às tinturarias, assim como aos mais variados produtos medicinais, o sabugueiro e os derivados deste serviam um pouco para tudo.
A Baga do Varosa foi ao longo deste último milénio, um dos principais, frutos da região, sendo uma riqueza para os Agricultores da região. Nos nossos tempos denominou-se a Baga do Varosa o “Ouro Negro” ou o “filão do Vale do Varosa”.
Se para os nossos dias a Baga do Varosa representa uma fonte de riqueza e uma mais valia também o foi noutros tempos para as mais variadas formas da vida humana, animal, ou agrícola.
Não temos qualquer dúvida do excepcional valor que a Baga do Varosa tinha para o manuseamento vinícola local e regional. É interessante ver os registos que nos vão aparecendo no meio do espólio documental que ainda existe no Mosteiro de Salzedas, e que está agora a ser restaurado e devidamente catalogado. Uma das informações interessantes é saber e perceber as utilizações que os Monges davam à Baga do Varosa. Faziam licores, doces e compotas, chás, e também a utilizavam com fins medicinais.
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